A inclusão destrutiva
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Dentre os inúmeros “mantras” do progressismo – e compreenda-se a palavra “mantra” como o repetido nome de uma virtude que os progressistas creem serem os únicos detentores e defensores – está a inclusão.
Essa palavra, no discurso da esquerda, funciona como um daqueles guarda-chuvas gigantescos encontráveis nas feiras de produtos chineses: engloba todos os que eles consideram excluídos, a partir de si próprios.
A dimensão dessa abrangência não encontra limites, alcançando tanto aquele que se vitimiza sem qualquer causa, senão sua própria incapacidade de gestão pessoal, física ou psicológica, como aquele que, por motivo justíssimo é, de fato, vítima de uma incapacidade ou dificuldade por ele insuperável sem a assistência de terceiros.
Para o progressista, contudo, todos cabem no mesmo balaio, já que consideram que todos os males do mundo derivam de uma atitude externa, coletiva, “malvadona”, inserida num contexto estrutural, de sorte que todos, de um modo ou outro, não apenas são culpados pelos danos desniveladores, como responsáveis por repará-los. Com isso, toda e qualquer atitude altruísta, de comiseração ou compaixão pela dor alheia, torna-se um sonoro “você não fez nada além de sua obrigação”. E esse tipo de pensamento está de tal modo convicto e arraigado no pensamento neomarxista que se formou verdadeira indústria legislativa que o corrobora e impõe.
Do ponto de vista metafísico essa forma de pensamento representa o fim do bem legítimo, voluntário; a morte da essência do amor ao próximo – a caridade. Não raro, em conversas com representantes desse tipo de ideologia, surgem expressões como “caridade é o que a burguesia faz para aliviar a sua consciência.” Revelando que, na mente coletivista-marxista, todo aquele que detém algo que outro não possui é uma espécie de usurpador, o que justificaria a ação do usurpado, ou excluído, em reaver o seu direito espoliado, ainda que usando a violência.
Aí o leitor começa a entender a interpretação conferida às expressões “justiça social”, “equidade”, etc. no contexto em questão. Se em tudo que incomoda alguém a sociedade é culpada, os incomodados passam a possuir um direito-dever de exigir dela a equiparação niveladora. Pouco importa a causa ou a origem do desnível ou do desequilíbrio da balança – se direta ou indireta, justa ou injusta – a diferença, em si, já é elemento bastante para o constrangimento daquele indivíduo ou grupo do qual o desequilibrado se julga credor.
Poderia, nesse ponto, falar de inúmeras situações que, na visão progressista, poderiam ensejar a imposição de obrigações legais, inclusive imposições criminais, a outrem: obesidade, etnia, sexualidade, condição socioeconômica, etc., mas o que me motivou hoje à escrita foi uma – a deficiência cognitiva.
Não entrarei no mérito das origens de um déficit cognitivo, pois a depender da crença materialista ou espiritualista, elas podem variar de uma fatalidade biológica azarada à uma motivação preexistente à própria vida física. Mas o fato é que tal infortúnio visita indistintamente as famílias, trazendo deveres diretos de assistência dos familiares e a compaixão dos não visitados, o que, por vezes, suscita o belíssimo e aconselhável desejo de também amparar.
Mas esse sentimento foi usurpado e deturpado pelos justiceiros de ocasião. Sob as bandeiras da inclusão, do nivelamento e da falsa equivalência, foram criadas leis proibidoras ou dificultadoras da manutenção de institutos especializados e dedicados ao amparo daqueles que, em qualquer grau, apresentam déficits psicológicos e cognitivos. Se é certo que muitos desses institutos se tornaram infames depósitos de indesejáveis, como em Barbacena/MG, constata-se que a extinção daqueles sérios fez delegar a mãos impróprias os ônus dos cuidados intensivos.
As escolas – públicas ou privadas – foram as maiores vítimas. Imposições legais as constrangem não apenas a receberem, mas, também, por se responsabilizarem por crianças e jovens que não possuem as mínimas condições de seguir os ciclos e de adquirir os saberes também impostos por lei, titulando-os à força. Em linda teoria um dos objetivos seria permitir a convivência e a integração entre os estudantes deficitários e os não deficitários, mas, na prática, observa-se efeito diametralmente oposto: delegação excessiva dos ônus familiares de cuidados à escola, aos professores e alunos-colegas; aumento superlativo do sofrimento dos alunos deficitários pela percepção objetiva da incapacidade de aprender como os demais e por não conseguirem participar de todas as atividades escolares e sociais de suas idades; frustração dos professores que, fisicamente impossibilitados de atender as demandas naturais em concomitância com as demandas especiais, têm que optar por uma delas, abandonando inconfessavelmente a outra; desestímulo aos demais alunos, que veem a mesma titulação, pretensamente conferida apenas àqueles que provaram interiorizar o conteúdo proposto, concedida aos colegas especiais que sabidamente não os adquiriram.
Muitos pais e responsáveis por esses mais necessitados não mais espelham no olhar o pedido de amparo e colaboração aos seus justos e heroicos esforços. Embandeirados de ideologia, e amparados por leis nela fundamentadas, elevaram-se de rogadores a credores, exigindo exclusividade impossível e ameaçando aqueles que os aconselham a busca de local mais especializado na ajuda, no amparo e na instrução de seus rebentos. Não raro, fingem não existir o grau severo de deficiência intelectual de seus filhos, atribuindo à escola os motivos da ausência de progresso efetivo. Paradoxalmente, muitos pais de jovens intelectualmente sãos simulam déficits de seus filhos – muito deles apenas indisciplinados e preguiçosos – para que eles obtenham vantagens, como a aprovação final no ano letivo sem os custos financeiros da repetência, tempo maior que os colegas para fazerem concursos seletivos como o ENEM e, quiçá, entrar na universidade e no mercado de trabalho, público ou privado, por intermédio de cotas.
Enquanto isso, seguem ao léu esses pobres carentes legítimos de cuidados maiores que, desovados nas mãos de terceiros incapacitados, encurralados a admiti-los pela força da lei, sofrem e fazem sofrer, na nau sem rumo criada pela ideologia teoricamente bela, mas, na prática, utópica, desumana e infelicitadora.
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