Cuidado com o coração!
Não, não estou advertindo sobre a manutenção da bomba cardíaca do leitor – embora isso também seja muito importante.
Falo do símbolo físico da emotividade, que sempre reage antes que a parte racional do cérebro tenha sequer se dado conta do acontecido. Fenômeno conhecido desde as mais antigas eras, e muito utilizado desde o século XX, é sabido que qualquer processo de comunicação e de convencimento, para que tenha sucesso, precisa abordar emoções básicas do indivíduo para que ganhe mais facilmente a sua adesão ao tema proposto.
E como já me advertiram que meus textos têm sido longos demais para as mentes inquietas da atualidade, e rebuscados demais para os cérebros desacostumados com o dicionário, vou tratar apenas de uma emoção básica que tem sido muito manipulada pelo mundo afora: a piedade.
Sentimento muito nobre, francamente cultuado no mundo cristão, mas não nele circunscrito, baseia-se em colocar-se no lugar psicológico do outro buscando um “sentir virtual” em relação ao que ele passa, “sentindo junto”. O nome disso é compaixão. E a filha dela é a piedade que surge quando, após essa conexão, voltamos a nós e lamentamos a dureza do desafio que a vida impôs ao próximo naquele momento. E a natural resposta é o apoio que, em mentes sadias, traduz-se em caridade, que é a individual e espontânea ação em dividir o que se tem – não apenas coisas materiais – com aquele que não as tem naquele momento.
Isso é belo, é bom e deve ser mais cultivado.
O problema é que, em tempos de culto da racionalidade fraca e da bondade ingênua, no qual pessoas cheias de possibilidades trocam a cultura por vídeos curtos em que macaqueiam dancinhas e situações ridículas para divertir desconhecidos, os melhores têm se tornado marionetes dos piores, que em tudo veem meros instrumentos para o exercício do seu domínio. O materialista não consegue ver a religião como instrumento íntimo de religação da pessoa com Deus, mas como instrumento de controle das massas de mentes fracas. Vemos isso nas vésperas de eleições, em que vários candidatos se aventuram em templos religiosos muito estranhos aos seus hábitos cotidianos. É que a pessoa má enxerga a piedade como fraqueza, como uma brecha no “firewall” da razão pela qual ele pode entrar e exercer seu domínio inteligente.
E essa corrupção, que varia em graus de consciência, pode ser encontrada desde o menino no semáforo vendendo balas num dia quente por ordem do adulto escondido na sombra, à propaganda política que expõe a criança sangrando, após ser atingida por acidente por policiais na favela, ou por soldados na faixa de Gaza. O objetivo é sempre o mesmo: capturar bondosos corações desavisados para direcioná-los emocionalmente contra algo ou alguém.
O método, cínico e maquiavélico, é eficaz: não há coração que resista à comiseração ante quadros tão dramáticos da vida. E todos os argumentos racionais parecem pequeninos ante tão grande emotividade.
Mas a razão deve ser sempre convidada a participar do debate, sobretudo em dias atuais quando, por exemplo, um grupo com propósito de terror declarado decide praticar atos sabidamente causadores de emoções que não podem ser contidas, com o fim único de deflagrar um efeito reverso em que eles próprios, juntamente com grande parte dos que os circundam, serão vitimados em retorno vingativo. Fazem isso para mostrar para câmeras e atiçar movimentos de países etnicamente afins, buscando causar resposta ainda maior, com adesão que conduza a uma guerra gigantesca em que os iniciais ofendidos o serão ainda mais, até porque numericamente insignificantes na região e historicamente combatidos, como ocorreu e ocorre com aquele que considero seu maior representante: Jesus Cristo.
Chegamos a tamanho exagero manipulativo da piedade que a virtude apenas é enxergada quando apresentada em oposição ao vitimismo crônico: um jovem estudioso, se teve meios para estudar, tem a conquista do êxito nos estudos desprezada, ou muito diminuída, se ele não se enquadrar em um modelo de “coitadismo” específico. Não raro vemos pessoas de todas as idades buscando ressaltar as dificuldades que tiveram – como se ninguém as tivesse num grau qualquer – para ressaltar as conquistas que conseguiram fazer, como se uma coisa dependesse da outra… Os “cases” de superação sempre são motivadores, mas é doentio crer que é preciso piorar as coisas para que o êxito tenha mérito reconhecido!
Por isso, caros leitores, continuem piedosos e ajam conforme o seu livre-arbítrio, enquanto ainda forem livres para fazê-lo. Acreditem no bem, pelo simples bem, sem precisar do mal para brilhar. Mas tenham muito cuidado com as pessoas que, não sentindo o que vocês sentem, buscarão escravizá-los, atraindo-os pela isca do bem que acoberta o anzol que fisga o coração.
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