Dissonância cognitiva ou ignorância voluntária?

Dissonância cognitiva ou ignorância voluntária?

Certamente o leitor que já possui algumas “horas de voo” na novíssima empreitada de estudar vertentes políticas que se diferenciem do pensamento revolucionário da velha-nova esquerda mundial já enfrentou o dilema que ora apresento: o desejo de compartilhar suas descobertas com aqueles amigos que, em nosso ver, merecem a nossa consideração. 

A solitária sensação do “estou acordado e todos dormem”, descrita pelo saudoso cantor e compositor Renato Russo na magistral canção “Monte Castelo”, invariavelmente permeia os corações “redpillados”. Despertar os que dormem passa a ser não apenas um ato político, mas uma necessidade visceral de quem não deseja a solidão intelecto-emocional.

Descobrir novos alimentos e sabores em um restaurante faz que o divulguemos gratuitamente apenas pela maravilhosa sensação de dever que a gratidão nos impele. Como é raro, contudo, encontrar pessoas dispostas a seguir o mesmo caminho, disporem-se em pagar a conta e, finalmente, encontrem a identidade de gostos que tanto nos empolgou.

Mas um fenômeno tem causado especial atenção em quem, como eu, aventurou-se na tentativa do despertamento alheio para algumas dessas novidades: a dificuldade da maioria em enxergar questões basilares, óbvias, fatuais, cuja constatação não depreende relevante força de raciocínio, por serem imanentes. O autor Gilbert Keith Chesterton (*29/05/1874, + 14/06/1936), analisando o fenômeno, chegou à seguinte constatação: “Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde”. 

Parece que esses dias finalmente chegaram.

Segundo o autor Jordan B. Peterson, na obra “12 Regras para a vida, um antídoto para o caos”, na ordem universal existe a regra e o caos, situando-se a primeira no referencial de perfeição Divina, e a segunda no afastamento dessa regra pelo livre-arbítrio humano. E nas tentativas de encontrar esse referencial, caminha o homem entre o caos e a ordem que – graças a Deus – invariavelmente conduz ao segundo, dadas as dolorosas consequências de quem busca a desordem. Embora ele não tenha citado, identifiquei, de plano, o ensinamento de Jesus em Lucas, 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” É impossível servir a Lei Divina se buscamos o caos como guia para identificá-la.

Mas voltemos à cor da grama: como identificar aquilo que é real e verdadeiro (Divino) daquilo que é mera conjectura humana, que consegue, se quiser, imaginar e acreditar que a grama é azul?

O saudoso filósofo e professor Olavo de Carvalho conceituou essa dificuldade de sintonia como “paralaxe cognitiva”, que é o “deslocamento ou afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real do indivíduo que está fazendo esta construção”. E o efeito patológico desse distanciamento é a dissonância cognitiva, em vista da qual o indivíduo, mesmo exposto a um fato objetivo, nega-o ou ignora-o como se isso o fizesse desaparecer a ponto de não existir. É o danado do gato de Schrodinger, que apenas buscou separar a situação concomitante de partícula ou onda no átomo, a depender do observador, mas que virou panaceia esotérica para negar a realidade (afinal, tanto a partícula como a onda são algo e não um não algo).

Mas porque isso tem se tornado tão comum? Especulo que seja em vista da ignorância, que busca ter opiniões sobre os fatos, sem antes conhecer e meditar sobre eles. É o tal pensamento crítico tão propalado pelos adoradores de Paulo Freire, que em tudo veem motivação para guerra classista, cujas informações não precisam ser compreendidas e analisadas, mas simplesmente relacionadas com coisas simples do cotidiano e usadas como armas ideológicas.

Esse distanciamento da cognição chegou a um extremo tão dilatado, que a própria experiência real fica dispensável. Pessoas que nunca participaram de uma só atividade de amparo efetivo a alguém em miséria julgam-se doutores em resolução da pobreza nacional e mundial. Não lhe conhecem o cheiro, a dureza e a cor real, mas julgam saná-la com fórmulas ideológicas mirabolantes que simplesmente desconsideram o miserável como alguém, como humano, como sujeito, para considera-lo como objeto direto de uma causa política, dita “progressista”.

O fato tornou-se de tal modo grave que vemos surgir um automatismo de comportamento que denomino como ignorância voluntária. Em seu mundo de fantasia longamente distanciado da realidade, o dissonante nega e teme qualquer coisa que possa devolvê-lo à constatação da realidade. Há poucos dias, um nobre amigo, tecnicamente muito intitulado, sendo doutor em várias cadeiras, ante algumas fraternissíssimas recomendações de elementos informativos, dentre elas de obras de Olavo de Carvalho e produções do Brasil Paralelo, safou-se com a seguinte altercação: “esses não, por motivos óbvios”. 

Quais seriam esses motivos óbvios? Acaso folhear livros bem escritos teria o condão de envenenamento, como no filme “O Nome da Rosa”? Ver documentários lhe queimaria os olhos? Acredito que não, até porque ninguém é obrigado a concordar com a antítese… 

O “motivo óbvio”, pelo que percebi, é claramente outro. Como ele, que defendeu tanto uma vertente, poderia se contaminar com uma antítese que lhe incentivaria formar nova síntese?

Sim, amigos leitores, o óbvio de meu amigo é o medo de perder a fantasia e a ilusão e descobrir-se agente do engano! E digo que ele empenhou a carreira e vida, antes promissoras, nisso. Confesso que também teria pavor, se não fosse o fato de desprender-me do medo de informar-me até com aquilo que, em princípio, discordo e que demanda ingestão de sal de fruta para suportar.

A ignorância voluntária é um refúgio na Ilha da Fantasia. Não é sem motivos que os ideólogos da esquerda buscaram o socorro de seus marqueteiros da maledicência para se protegerem. Buscam queimar em labaredas altíssimas tudo e todos aqueles que, de um modo ou outro, retiram os seus dominados das ilusões que os escravizam. É um experimento social até então vitorioso, pois não se pode debater sobre o conteúdo de uma obra antes repelida por ser considerada tóxica e contagiosa, seja pela capa ou pelo nome do autor, e nem aberta por isso. 

Você mesmo que está lendo agora: quando falo “Olavo de Carvalho” e “Brasil Paralelo”, quais as primeiras impressões que lhe vêm à mente? Um velho fumador, radical e falador de palavrão, ou um filósofo incrível e extremamente erudito? Um site de jovens estudiosos que convidam outros estudiosos, jovens ou não, em programas muito bem documentados e lógicos, ou um bando de neofascistas divulgadores de ideias nitidamente enviesadas de “extrema-direita”?

Por isso, leitor querido, vou terminando com a certeza de pouco adiantará os esforços despertadores se cada qual, a partir de nós mesmos, não nos dispormos à leitura e a busca das informações despidos de preconceitos, não para as opormos a outrem, mas simplesmente para que também não sejamos vítimas de nossa ignorância acalentada.

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