O 1964 e o 1984
Na obra 1984, de George Orwell, o protagonista “Winston” colecionava caraterísticas que, na profética visão do autor da obra, representariam no futuro (1984) o típico do cidadão de classe média numa sociedade Estatal: era, como todos os de classe média e alta, um tipo de servidor público executivo pobre, mas paradoxalmente orgulhoso por ter a delegação de algum poder e pequenas regalias; tinha medo constante sobre a terrível vigilância que sofria ininterruptamente dos agentes maiores do Estado, que torturavam “em nome do amor”; era infeliz com o casamento, já que as mulheres, inclusive a sua esposa, apenas tinham compromisso com o Estado, inclusive reprodutivo para fornecer mais servidores ao “grande irmão”; desconfiava dos vizinhos, já que até as crianças tinham função estatal de denúncia; invejava os pobres, mais conhecidos “proletas”, que na condição miserável tinham, na completa alienação e obediência, o desvio do olhar do Estado sobre suas pequenas transgressões de comércio com mercado negro, e o direito de cantar alegremente as músicas permitidas pelo “grande irmão”.
A característica mais interessante deste personagem, contudo, era sua função/profissão estatal: queimar a história e refazê-la, eliminando e adulterando textos antigos, sobretudo de jornais (sua mesa de trabalho tinha um cano que conduzia os documentos a uma fornalha). Para tanto, seguia uma cartilha linguística, permanentemente revisada e alterada, que modificava o significado de determinadas palavras, suprimia algumas e criava outras.
Considerando que a obra foi escrita em 1949, causa espanto a capacidade do autor, que era comunista por ideal, vislumbrar todas as consequências dos regimes totalitários, notadamente o seu antes idealizado comunismo que, naquele tempo, já mostrava claramente seus inigualáveis estragos, não obstante a sua eficientíssima propaganda em negá-los.
Mas qual a relação entre o livro 1984 e o ano de 1964? Para descrevê-la utilizarei outro livro cujo título também começa com uma data: 1964: o elo perdido, livro documental escrito por Mauro Abranches Kraenski e Vladimir Petrilák, descendentes de Tchecos, a partir da abertura dos arquivos da KGB, após a queda da cortina de ferro soviética.
Na obra há a descrição da sistemática de infiltração da KGB no Brasil, cooptando desde autoridades a revolucionários outros, mediante o seu braço do serviço secreto da então Tchecoslováquia Comunista, o StB. A técnica proposta muito se assemelhava à utilizada em Cuba: cooptação de elites (interessadas nos cargos e poder garantidos pela força revolucionária), infiltração e domínio em áreas específicas centrais do território – como fizeram em Sierra Maestra em Cuba (aqui tivemos as famosas forças revolucionárias no Araguaia-MT, Caparaó-MG, Etc. além dos diversos “aparelhos” situados nas capitais).
Curiosamente isso nunca foi negado ou ocultado. Há fartura de livros, obras cinematográficas e até entrevistas televisivas com revolucionários famosos da época, tais como os atuais políticos Fernando Gabeira, José Dirceu, Dilma Roussef, dentre muitos outros. Em todas as obras e entrevistas, uma verdade não negada: todos participaram ativamente na ideia de implantação de uma “ditadura do proletariado” no Brasil, sendo treinados e armados para tanto pelo poder soviético, direta ou indiretamente. O maior e mais admirado agente comunista, José Dirceu, foi treinado diretamente em Cuba pela KGB e revelou-se, de fato, um super-homem, lendário pela inteligência, coragem, fidelidade, silêncio e valentia.
À feição de 1984, contudo, essa história está sendo, seguidamente, adulterada e queimada. Revolucionários Comunistas, valendo-se de inteligente propaganda, se auto intitularam “agentes contra a repressão do golpe militar” e entraram no imaginário coletivo como herois, sobretudo pelos iludidos jovens da época e seus filhos, que inocentemente acreditaram – e muitos ainda acreditam – que o Estado, dominado por uns poucos do partidão, e senhor de todas as almas vassalas, um dia entregará todo o poder “ao povo sofrido”.
E para quem ache que estou vivendo de passado, olhe à sua volta!
No último dia 31 de março foram fartas as decisões que proibiram qualquer alusão à reação de grande parte da sociedade contra os movimentos de infiltração socialista/comunista, inclusive pelos militares. Antes disso, à sorrelfa, os movimentos dos revolucionários passaram a renomear ruas, prédios, viadutos, etc. cujos nomes foram atribuídos em homenagem aos governantes contrarrevolucionários da época. Até a 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, de nome “31 de março”, teve seu nome questionado judicialmente pelo Ministério Público. Renovaram-se as alusões ao cancelamento da Lei da Anistia, esquecendo-se, a propósito, que ela valeu para revolucionários e contrarrevolucionários…
Sim, como tantos outros, esse foi um período complicadíssimo de nossa história. E eu nasci em meio a ele.
Particularmente penso que os militares da época, como os militares de outras épocas, meteram os pés pelas mãos, brigando entre si, permitindo o descontrole de seus subordinados, sobretudo as forças auxiliares, criando mártires e heróis tupiniquins, que hoje dominam a política, as artes, as universidades, o imaginário estúpido dos “anos rebeldes”. Não mais são vistos como pessoas que impediram que o comunismo leninista/stalinista fosse implantado no mais importante e rico país da américa do sul, empurrando a revolução para republiquetas e ilhas de menor valor estratégico, mas como torturadores que enforcam jornalistas, arrancam seio de jovem revolucionária e explodem-se num espetáculo de incompetência no Riocentro. E a omissão de auditar urnas, em 2022, somente enfatizou mais isso.
Após a tomada do poder (atuais representantes deles confessam que poder se toma, e não se “ganha”) logo criaram a “comissão da verdade” composta, em sua esmagadora maioria, por vingativos e financeiramente interessados revolucionários do proletariado. A dita comissão, num esforço hercúleo, mais baseado em depoimentos de familiares tendenciosíssimos que em provas, conseguiu catalogar, no total, 434 “entre mortos e desaparecidos” nos vinte e um anos em que perdurou o regime militar no Brasil. Esse número – vinte e uma pessoas por ano num país de proporções e população continentais, pondere-se, é composto por todos revolucionários e contrarrevolucionários mortos ou desaparecidos, abrangendo, inclusive, os mortos pelo “tribunal da guerrilha”, que eliminavam os seus elos mais frágeis.
Lógico que mesmo se fosse uma só vida já seria horrível, mas não podemos deixar de comparar com outros conflitos e respectivas consequências na mesma época. Na pequeníssima ilha de Cuba, por exemplo, considera-se, oficialmente, a existência de 9.222 mortes em 41 anos (225 por ano), sendo 3.051 delas por fuzilamento ao comando dos “herois” revolucionários Fidel Castro e Ernesto Che Guevara (que recebeu no Brasil, pouco antes de 1964, a maior condecoração que poderia ser ofertada, a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul, diretamente das mãos do presidente Jânio Quadros). Os números reais estimados, contudo, apontam para mais de 17.000 mortes.
E considerando que a população de Cuba era de 6,5 milhões à época e, do Brasil, 80 milhões, uma simples regra de três, indica que se a revolução comunista tivesse prevalecido no Brasil, como ocorreu em Cuba, teríamos 209.230 mortes (se considerados os números estimados) ou 113.502 mortes (se considerados os números “oficiais”). Em simples matemática macabra, pois, tem-se que o conflito entre Ditadura Militar Brasileira x Ditadura do Proletariado, causou, proporcionalmente, entre 0,20 e 0,38 % das mortes causadas no conflito Cubano. Mas no dia 31 de maio alguém se lembrou disso? Não? Viva a propaganda!
Talvez por isso a ânsia em queimar o passado ou em lhe adulterar os valores. Estivemos, e ainda estamos, em verdadeira guerra.
A diferença é que, no passado, os revolucionários comunistas brasileiros, diferentemente dos Cubanos e Venezuelanos, se depararam com uma represa que, embora cheia de furos e fissuras que permitiram os vazamentos que hoje tanto nos danificam, segurou o tranco. Mas a ação do tempo, acabou por tornar em peneira a represa, que hoje vaza aos borbotões, sendo retirados os seus principais e mais fortes tijolos, um a um. E quem confia numa represa dessas?
E os “revolucionários do proletariado” – os mesmos, diga-se – estão aí, rindo-se, vitoriosos. Ficaram mais inteligentes: trocaram as armas sanguinolentas pelas canetas da “legalidade”, ainda que as enfiem nos olhos dos adversários.
E se o último general presidente da represa forte ficou famoso por dizer que “prende e arrebenta”, hoje quem prende e arrebenta são os revolucionários de outrora e seus lacaios que, sejamos francos, sempre quiseram a ditadura, apenas usando o slogan do proletariado.
E para que não termine esse artigo sugerindo derrotismo, deixo a questão: agora eles é que são a represa e, para nosso consolo, além de furada e rachada, já foi feita com grandes erros de projeto. Engenheiros, mestres-de-obra e operários não conversam e, pior, disputam entre si. Sim, ela inevitavelmente ruirá por si própria. Sua estrondosa queda abrirá enorme espaço. Quem o ocupará?
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