Reflexões de um professor sobre o Dia dos Professores!

Ao entrar na sala do cafezinho de meu colégio, o pessoal da Supervisão Escolar me perguntou: “Professor, diga uma frase em homenagem ao professor?”. Fiquei sem graça, pois não queria dizer nada. O “Dia do Professor” representa uma generalização que atribui a qualquer profissional do ensino uma dignidade que não faz jus a todos da categoria. Claro que é possível generalizar. O “Dia das Mães” e o “Dia das Crianças” são exemplos disso, pois é possível verificar que a grande maioria das mães e das crianças é merecedora da referida homenagem; não é o caso do professor!

Quanto à solicitação acima, não precisei dizer nada. Felizmente, alguém exclamou: “Ah, assim não vale, ele também é professor e não é justo ter que dizer algo para homenagear a si mesmo!”. Sábio! Fiquei aliviado. Contudo, se fosse pressionado a responder alguma coisa, com pesar, teria dito que, hoje em dia, “PROFESSOR É MAIS UM INFLUENCIADOR QUE UM INTELECTUAL QUE ENSINA!”. É desse modo que consigo definir minha categoria profissional na contemporaneidade.

Antigamente, professor ensinava e, para ensinar, precisava conhecer e dominar (e muito) o seu ramo de ensino. Infelizmente, ser portador de CONTEÚDO e transmiti-lo a outras gerações, perpetuando, desenvolvendo e ampliando os conhecimentos adquiridos pela humanidade, já não é tão importante assim. Aliás, ao contrário, uma grande ala da pedagogia moderna e contemporânea fez questão de agregar um “-ismo/-ista” a essa palavra, a fim de torná-la até mesmo abominável. Assim, o “conteudismo” e o “conteudista” foram relegados a um patamar execrável no processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que a FORMA como se leciona uma matéria escolar fosse muito mais importante do que o domínio do CONHECIMENTO que se tem sobre ela. É óbvio que não descarto a didática nesse contexto que vem acompanhando essa nefasta tendência.

Desse modo, é possível perceber como cheguei ao conceito de “professor-influenciador”, afinal quem precisa de um “professor-‘ensinador’” hoje em dia? É óbvio que professores influenciam bastante a vida de um aluno (positiva ou negativamente), porém isso se dá por consequência de inúmeras outras razões. Em toda a minha vida de estudante (no jardim, no colégio, na faculdade, na pós-graduação), minha admiração primeira por qualquer professor foi pela sua sapiência e pela sua competência em ministrar seu conteúdo; e isso tem-se perdido.

É fundamental que um mestre ensine, o que não significa que ele, sempre que possível, também possa educar. Apesar dessa última parte dizer respeito sobretudo à família, a atenção, a moralidade, a ética, o respeito, o carinho, o amor podem estar presentes na forma com que o professor ensina. Isso o torna muito especial, mas não é isso que preconiza a sua profissão.

Como professor, eu procuro ensinar de todas as formas e com todos os recursos didáticos de que disponho, mas sempre levando conteúdo e informação, a fim de que meus alunos os transformem em conhecimento. Amo fazer o que faço e, assim, também educo com todo o amor possível! Dessa maneira, procuro exercer minha influência positiva onde quer que lecione as matérias para as quais me graduei, sem jamais deixar de ensinar primordialmente. Como eu, conheço inúmeros outros amigos e colegas de profissão, mas, infelizmente, nem todos são assim. Há uma parcela significativa de professores que mais influenciam do que ensinam. Não dominam (e muitas vezes desconhecem em grande parte) o conteúdo que lecionam, não têm uma preparação metodológica e didática adequada ou são imbuídos de um espírito extremista que mais tendem a ideologizar do que ensinar. Nos últimos 30 anos, a qualidade do ensino (público e privado) tem decaído muitíssimo, inclusive no ensino superior. É lamentável ver o ensino no país e minha profissão relegados a níveis tão degradantes!… Sendo assim, no dia de hoje, 15 de outubro, não posso simplesmente generalizar e parabenizar todos os professores por seu dia. Não é um simples título acadêmico que será capaz de transformar todos os professores merecedores de tamanhos elogios, considerações e homenagens. Isso não corresponde à realidade e sou testemunha do mal que muitos “mestres” têm causado ao ensino no país.

Por outro lado, como sou um otimista irremediável, tenho por mim que muitos colegas de profissão são, sim, merecedores de tais louvores e termino este texto deixando aqui minhas sinceras congratulações àqueles que, de fato, são dignos deste dia. Que não sejamos meros influenciadores, mas competentes profissionais do ensino e, dentro das condições de cada um, maravilhosos educadores! Nesse sentido, aos que merecem, feliz Dia dos Professores!!!

Prof. Ronaldo Tavares – 15/10/2024.

Mestre em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG (2016). Graduação em Letras Espanhol pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG (1997) e graduação em Letras Português pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG (1993). Pós-graduado em Língua Portuguesa com Ênfase em Multiletramentos pela Universidade Gama Filho UGF-RJ (2012) e em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade do Estado de Minas Gerais UEMG (1997). Cursos “Pensar a Arte Filosoficamente”, “A Crítica de Arte na Produção Contemporânea” e “Projetos de Pesquisa Acadêmica em Artes e Experiências InterArtes na Educação” em Belas Artes UFMG (2020) e em Literatura e Cinema CEFET-MG (2018).